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Laissez-faire, laissez-aller, laissez-passer e as origens do pensamento econômico moderno

A ideia do “laissez faire” remonta ao século XVII, período em que o iluminismo europeu floresceu com as teorias de diversos filósofos, dentre eles (e de suma importância), Adam Smith, tido como o pai da Ciência Econômica Moderna. No entanto, somente no século XVIII é que a filosofia da ilustração veio atingir seu ápice com filósofos como Locke, Montesquieu, Voltaire, Kant, Hume, Marquês de Pombal, o próprio Smith, entre outros.

O iluminismo consiste, basicamente, em um conjunto de teorias filosóficas, sociais, políticas e religiosas que resgatou o pensamento científico e o trouxe para explicar o pensamento e a ação humana. A partir desse período, posterior ao Renascimento, o homem resgatou antigos valores vivenciados na incipiente civilização grega e voltou a ser protagonista de sua própria história.

A expressão “laissez faire, laissez aller, laissez passer” significa, literalmente, “deixai fazer, deixai ir, deixai passar”. Ela tem origem com François Quesnay, da escola de pensamento fisiocrata, da França, médico da corte do Rei Luis XV, mas foi incorporada por uma corrente econômica que defende a existência de um mercado onde as trocas comerciais funcionem livremente. Adam Smith foi o principal defensor dessa teoria, e complementou-a dizendo que o comércio internacional, isento de impostos alfandegários, traria maiores benefícios para as nações envolvidas do que a proteção da produção nacional.

Em sua obra máxima, A Riqueza das Nações, Smith explanou essa ideia e disse que “não existe arte mais desenvolvida nos governos do que a de aprender com outros governos novas maneiras de arrancar dinheiro do bolso das pessoas”. Dessa forma, além de corroborar a ideia de um mercado sem barreiras, introduziu a teoria do liberalismo econômico.

O liberalismo econômico defende o funcionamento do mercado sem a intervenção estatal, sendo que o mercado resultará do exercício das forças de oferta e demanda. Smith chamou a ação conjunta destas forças de “mão invisível” e esse modelo foi fortemente defendido e desenvolvido por várias décadas.

Dando um salto na história e chegando ao século XX, tivemos a crise de 1929, o “crash” da bolsa de Nova York, também conhecida como “A Grande Depressão”. Essa crise levou milhares de pessoas a perderem todas as suas reservas financeiras, perderem empregos, casas, entre outros bens acumulados durante suas vidas. Em 1944 na conferência de Bretton Woods, a ideia do liberalismo econômico foi amplamente questionada, pois foi essa a ideologia que levou o mundo a viver esta profunda crise.

A partir desse momento, passa a ser defendida uma nova ideologia econômica, conhecida como Welfare State (Estado de bem estar), ou seja, o Estado é tido como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia, regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica do país. Essa teoria pautou boa parte do século XX e encontrou como grande formulador o economista inglês John Maynard Keynes, que contribui para o nascimento de instituições internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.

Não obstante, em meados da década de 1960 um novo pensamento foi sendo moldado em resposta ao Welfare State e a estagflação (entende-se por estagflação a associação simultânea de estagnação econômica – caracterizada por crescimento zero ou quase zero e aumento do desemprego – com inflação – caracterizada por aumento de preços) que muitos países viviam na época. Esse pensamento foi chamado de neoliberalismo e teve Milton Friedman e Friedrich A. von Hayek, como seus principais teóricos.

O neoliberalismo pode ser entendido como uma evolução do liberalismo clássico e defende a liberdade de funcionamento do mercado, no entanto, com um grau mínimo de interferência do Estado, sendo de sua responsabilidade setores imprescindíveis da economia e, além disso, resgatar o mercado quando de grandes crises. A teoria neoliberal (com todas suas variações históricas) rege as economias até hoje.

É interessante ressaltar que ao longo da história surgiram algumas teorias são chamadas, de modo geral, de heterodoxas, ou seja, que vão contra a corrente de pensamento vigente. Notadamente, um dos maiores formuladores de uma teoria heterodoxa é Karl Marx, que com suas análises do modo de produção capitalista, contribuiu com a compreensão do próprio sistema e com o fortalecimento de setores da economia em defesa dos trabalhadores, como os sindicatos, associações de classe, etc. Suas análises também envolviam a centralidade do Estado como orquestrador da atividade econômica de uma nação.

Após essa breve análise histórica dos principais grupos de teorias econômicas percebemos que, com o passar do tempo, o pensamento econômico teve suas nuances entre o livre funcionamento do mercado e a intervenção do estado nesse mercado. Até hoje, essa é uma discussão muito presente na vida política e econômica. Economistas como Stiglitz, Krugman, Piketty, Chesnais, dentre outros, acreditam ainda na importância do papel do Estado como articulador da economia. Mas economistas como Mankiw, Blanchard, dentre outros, ainda defendem a importância de um mercado livre de intervenção. Acreditamos, assim, que vale a pena questionarmo-nos sobre até que ponto é benéfico um sistema econômico livre ou com intervenção estatal.

Créditos da imagem – http://bit.ly/1iL6mBj

*Texto originalmente publicado em 10 de outubro de 2010, mas modificado em 19 de agosto de 2014.

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