Nos últimos tempos, um detalhe quase imperceptível nas prateleiras chamou a atenção: embalagens de bolachas, bombons e ovos de Páscoa passaram a usar os termos “tipo chocolate” ou “sabor chocolate”. Uma mudança sutil na tipografia, mas que revela uma transformação profunda na indústria do chocolate.
De um lado, temos grandes marcas reformulando seus produtos para reduzir custos. De outro, vemos franquias de chocolate com preços cada vez mais altos, doceiras locais se reinventando para manter as vendas, e consumidores que, mesmo em datas comemorativas como a Páscoa, sentem que o doce perdeu o brilho. Mas para entender esse cenário no comércio de doces, é preciso voltar à origem: o cacau.
O Brasil é um dos países com tradição na produção de cacau, especialmente no sul da Bahia. Talvez você já tenha visto plantações por lá, ou se lembre de novelas que usaram o fruto como pano de fundo. Mas o que está acontecendo no mundo vai muito além da ficção.
Segundo o Trading Economics, os futuros do cacau foram negociados recentemente abaixo de US$ 8.400 por tonelada, após atingirem um pico de quase US$ 8.472 em abril. Apesar da leve queda, o preço segue em níveis historicamente altos, resultado de uma combinação de oferta limitada e demanda global ainda intensa. Estima-se que a moagem de cacau — uma medida da demanda — tenha recuado entre 5% e 7% no primeiro trimestre.
Na Costa do Marfim, maior produtor mundial, agricultores alertam para uma safra intermediária fraca, afetada por longos períodos de seca. Isso significa menos grãos disponíveis e de qualidade inferior, o que pressiona ainda mais o mercado.
E o que isso significa para o consumidor?
Com a escassez do cacau e a continua demanda, o preço do chocolate tende a subir. Para manter a margem de lucro, muitas empresas optam por substituições no produto final, afetando diretamente o sabor e a qualidade. A crise do cacau já está sendo sentida nas prateleiras — e na boca de quem esperava um chocolate de verdade nesta Páscoa.
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