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Copom: cautela é virtude, não omissão

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O Copom caminha para promover um novo aumento de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, em resposta à persistência inflacionária e a uma suposta resiliência da economia doméstica. No entanto, essa leitura demanda maior nuance. O crescimento acima do esperado nos primeiros meses de 2025, embora real, foi impulsionado quase exclusivamente pelo agronegócio — setor altamente produtivo, mas de baixa difusão para o restante da economia. Confundir esse impulso com uma retomada generalizada pode levar a diagnósticos apressados e a políticas públicas desnecessariamente restritivas.

É legítimo reconhecer que o processo inflacionário atual não é nem transitório nem confinado a alguns itens isolados. O próprio Banco Central tem sido claro quanto à natureza mais disseminada da alta de preços. No entanto, a taxa real de juros brasileira já figura entre as mais elevadas do mundo — e exerce, por si só, forte papel desinflacionário. Combinada a uma política fiscal mais crível e previsível, essa taxa seria suficiente para guiar a inflação de volta à meta, sem recorrer a um ciclo adicional de aperto tão intenso quanto o que agora se vislumbra.

Os riscos inflacionários existem, sim. O mercado de trabalho segue apertado em alguns segmentos, e o componente de mão de obra no INCC-M é uma evidência concreta disso, complementarmente, o desempenho recente de núcleos de inflação mais aderentes ao ciclo econômico também traz preocupação. Ainda assim, a maior parte das instituições de mercado projeta uma desaceleração da atividade a partir do segundo semestre, à medida que os efeitos defasados da política monetária — que já é bastante restritiva — continuem se materializando.

Nesse cenário, a atuação do Banco Central precisa equilibrar firmeza com parcimônia. Um aperto monetário excessivo não só pode falhar em reduzir a inflação com maior velocidade, como também comprometer a trajetória da dívida pública e enfraquecer ainda mais uma economia já em transição para um novo ritmo de crescimento. O papel do Copom, agora, é calibrar. E calibrar exige reconhecer que nem todo aumento de juros é sinônimo de prudência. Às vezes, a cautela está justamente em saber parar.

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