A temática da complexidade econômica sempre nos chamou a atenção e, agora, nos parece latente abordá-la. Semana passada, nós abordamos a temática da indústria nesse espaço do editorial <veja aqui>.
Essa semana o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) trouxe ao público o resultado da PMC (Pesquisa Mensal do Comércio) e da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços). Ambas apresentaram os resultados de junho de 2016.
Além disso, Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) também divulgou dados do setor primário brasileiro, especialmente as estimativas para a safra de grãos.
Os dados
Comércio varejista
Na série com ajuste sazonal, o comércio varejista nacional apresentou variações positivas de 0,1% em volume de vendas e de 0,9% para receita nominal. Com esses resultados, a média móvel trimestral para o volume de vendas, em queda desde dezembro de 2014, mostrou variação de -0,2%, enquanto permanece no campo positivo (0,6%) para a receita nominal.
Para o comércio varejista ampliado (varejo e mais as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção), a variação em relação a maio de 2016 foi de -0,2% tanto para o volume quanto para a receita nominal de vendas, ambas na série com ajuste sazonal.
Setor de serviços
O volume do setor de serviços, por sua vez, caiu 0,5% na margem em junho, excetuados os efeitos sazonais. O resultado mais que devolveu a alta de 0,2% observada em maio. Dentre os segmentos que entram para o cômputo do PIB, outros serviços recuaram 1,5%, também descontada a sazonalidade, ampliando as perdas dos meses anteriores.
Em contrapartida, transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio e serviços de informação e comunicação apresentaram modestos avanços de 0,1% e 0,2%, respectivamente.
Com isso, a atividade do setor de serviços registrou variação negativa de 1,2%. Em relação ao mesmo período de 2015, houve declínio de 3,4%. Dessa forma, os dados reforçam nossa expectativa de contração de 0,3% do PIB no segundo semestre, informação a ser conhecida no final deste mês.
Agricultura
Por fim, a 11ª estimativa de produção de grãos foi novamente revisada para baixo, refletindo as adversidades climáticas registradas entre abril e maio nas principais regiões produtoras.
A produção total de grãos, antes estimada em 189,3 milhões de toneladas, foi revista para 188,1 milhões, o equivalente a um recuo de 1,1 milhão de toneladas ou de 0,6% ante o levantamento do mês passado. O resultado marca a quinta revisão baixista consecutiva para a safra total.
Refletindo as intempéries climáticas recentes, todas as culturas estão com queda na atual safra ante o total produzido no ano passado. Nesse cenário, a oferta interna de grãos continuará justa, mantendo os preços domésticos pressionados.
A complexidade econômica
A complexidade de uma economia seria a explicação para a divergência nos níveis de renda entre países ricos e países pobres que não é esperada por vários modelos tradicionais de crescimento econômico. Ao contrário, tais modelos têm como hipótese a convergência da renda dos países.
Por complexidade econômica, entende-se a diversidade de “capacidades” de um país, medida pela diversidade e sofisticação de sua estrutura produtiva. Tais capacidades incluem desde habilidades específicas no mercado de trabalho (que são de difusão difícil e estão contidas em redes de profissionais), até direitos de propriedade e regulação.
Uma aplicação da complexidade econômica
Destacar esses dados, apresentados isoladamente para compreender setor por setor, nos coloca sempre a dúvida de como os setores se conectam. Nesse sentido, entender toda essa cadeia de produção e distribuição (também chamada por alguns de cadeia de valor) é importante.
Essa visão é, em certa medida, contrária à visão tradicional de especialização produtiva (mas não excludente). Em outras palavras, não basta que um país tenha um forte setor de serviços ou uma indústria pujante. Todo o seu tecido produtivo, sua estrutura produtiva, precisa ter certo grau de interdependência (quase homogeneidade). Os setores precisam evoluir com certa harmonia.
Essa evolução garante, dentro da lógica da complexidade econômica, que um país ou região econômica alcance patamares mais elevados de desenvolvimento econômico. Fazendo uma leitura dos dados atuais dos setores econômicos, vemos que toda a economia brasileira segue em recessão. Todos os setores apresentam dados em queda.
Semana passada, por exemplo, quando ressaltamos que os dados positivos da indústria ainda não são motivo de grande celebração e euforia, parte de nossa visão se embasava nessa visão de interdependência.
A indústria, sem o comércio, não avança, não realizam sua produção. A agropecuária, sem os serviços, não avança, pois também não escoa sua produção.
Assim sendo, destacamos, por fim, a importância de pensar no tecido produtivo como um todo, em suas conexões, na interdependência dos setores. Sem essa “homogeneidade” nos ritmos de crescimento dos setores, a economia não cresce, tampouco alcançaremos patamares maiores de desenvolvimento econômico.
—
Dúvidas, críticas e sugestões? Entre em contato conosco.