A realidade é complexa. Por complexidade entendemos um sistema composto de muitos elementos, camadas e estruturas, cujas inter-relações condicionam e redefinem continuamente o funcionamento do todo.
Assim sendo, uma das questões que sempre estão presentes nas discussões econômicas são os chamados axiomas.
Um axioma é uma premissa considerada necessariamente evidente e verdadeira, fundamento de uma demonstração, porém ela mesma indemonstrável, originada, segundo a tradição racionalista, de princípios inatos da consciência ou, segundo os empiristas, de generalizações da observação empírica.
O elemento que devemos destacar é o caráter indemonstrável dos axiomas. Como é possível basear as análises da realidade e ações sobre a realidade a partir de premissas que não podem ser testadas, validadas, demonstradas?
Milton Friedman, em seu clássico artigo de 1953, intitulado “The Methodology of Positive Economics” (A Metodologia da Economia Positiva, em tradução livre), afirma que de fato, não precisamos saber se os axiomas são razoáveis, basta ver se as previsões do modelo o são.
Mas e quando nem os resultados do modelo são assertivos como se espera que sejam? Aí temos um problema sério…
É por isso que consideramos de suma importância as reflexões dentro do campo da economia política.
Recentemente, por exemplo, o preço do petróleo está em queda. Na realidade, é um movimento, como podemos notar na imagem abaixo, de longo prazo.
A última cotação do barril de petróleo de 11/11/2016 ficou em US$ 43,13. E é aí que entra a importância da reflexão aqui proposta.
Os modelos econômicos tradicionais consideram somente as “forças de mercado”, ou seja, oferta e demanda, como determinantes dos preços. Alguns dos axiomas que embasam essa análise são informação completa, racionalidade e elevado número de agentes no mercado.
A ciência econômica avançou bastante, mas mesmo os modelos mais modernos ainda partem dessas bases “axiomáticas”.
Aí entra nossa contribuição: e no caso do preço do petróleo?
Existem uma miríade de forças que atuam sobre a cotação do petróleo muito além das forças de oferta e demanda. Não se trata aqui de tentar desconsiderar ou anular o papel das forças de mercado, mas ao contrário, evidenciar que existem mais elementos. Destacamos pelo menos dois: as inovações tecnológicas e a concentração de mercado.
As inovações tecnológicas não são consideradas nos modelos tradicionais, pois ferem algumas premissas como, por exemplo, o equilíbrio. Uma economia que inova está sempre em desequilíbrio. E, obviamente, que isso afeta o preço. Com o petróleo não é diferente.
Diversas inovações que possibilitaram o uso de diferentes fontes energéticas – em especial as ditas “fontes de energia limpa” -, tem substituído o uso de petróleo e, por conseguinte, elevado os estoques de barris, levando à queda do preço.
De todo modo, as inovações, especialmente as novas fontes energéticas, ainda não tem força suficiente para fazer frente ao petróleo. Mas não desconsideramos seus impactos. Vale destacar que setembro de 2016, foi o mês com um dos maiores consumos de petróleo na história segundo os relatórios da OPEC – Organization of the Petroleum Exporting Countries, ou Organização dos Países Exportadores de Petróleo em tradução livre.
Mas tem um outro fator até mais significativo: a concentração de mercado. Existem poucos grandes players no mercado de petróleo. Sem sombra de dúvidas, o maior player é a Rússia. Outro grande player é a Arábia Saudita.
Quando se concentra o mercado, concentra-se consequentemente o poder. E esses players tem o poder de modificar, por exemplo, o preço a partir de decisões que não são estritamente de ordem econômica, mas de ordem política.
Reflita: qual a lógica de elevar o estoque só para derrubar os preços? A resposta certamente possui grandes elementos de política em detrimento de economia pura – se é que existe algo do tipo.
Os números falam muito mais do que se imagina. O ponto central, portanto, é que há muitos outros elementos para explicar a queda do preço do barril de petróleo do que somente as forças de mercado. Como ressaltamos, também há inovações tecnológicas e a concentração de mercado.
Mas, vale a provocação deixada pelo grande músico Belchior: “E o que há algum tempo era jovem novo / Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer / (…) / No presente a mente, o corpo é diferente / E o passado é uma roupa que não nos serve mais”.
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