Por André Galhardo Fernandes, economista-chefe de Análise Econômica
Diante das manifestações dos caminhoneiros devido a alta dos combustíveis ao consumidor e à chegada da Selic à taxa estrutural, governo e Banco Central tomam decisões que se quer podem ser chamadas de paliativas.
Pela ordem, vamos falar dos combustíveis.
Após aumentar os preços dos combustíveis em sete oportunidades somente no mês de maio, o governo decidiu agir para tentar acalmar a opinião pública.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), informou que o governo decidiu zerar a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE). A suspensão da cobrança do tributo, no entanto, reduz os preços de forma meramente marginal, isso se este “desconto” efetivamente chegar até o consumidor final.
Mas, do ponto de vista político, reduzir tributos atualmente é quase um presente divino e pode de alguma forma arrefecer os ânimos dos consumidores de combustíveis. A CIDE acrescenta R$ 0,10 por litro de gasolina e R$ 0,05 por litro de diesel!
Cabe lembrar que, a despeito do recuo do governo, desde a implantação do novo regime de reajuste de preços, implementada em meados do ano passado, o preço da gasolina subiu aproximadamente 55,5% nas refinarias.
Pois bem, no primeiro caso temos então um acréscimo superior a 55% acumulado em pouco menos de um ano e um governo benevolente que aplica um desconto de até R$ 0,10 centavos por litro de gasolina e de até R$ 0,05 por litro de diesel.
Cabe lembrar que, com a inflação sob controle o aumento do preço dos combustíveis e de outros itens amplamente utilizado no produção, escoamento e consumo brasileiros, podem trazer mais receitas ao governo que está catando moedas para tentar equilibrar suas contas.
No segundo caso, o Bacen divulgou a ata da 214ª reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Na ata, em tom quase que de pedido de desculpas, os membros do conselho tentaram desfazer a confusão criada por falas dos seus membros antes da reunião. Na ocasião, o caso mais emblemático foi do presidente do Bacen, Ilan Goldfajn, que teria deixado escapar a seus interlocutores uma nova queda da Selic. Na ata, há uma tentativa clara de explicações desse “mal-entendido”.
Mais importante que o “pedido de desculpas” foi a justificativa da manutenção da taxa em 6,5% ao ano. Primeiro e mais importante, a subida da taxa básica de juros dos países desenvolvidos que poderiam diminuir o apetite ao risco nos países emergentes (subdesenvolvidos).
Em segundo, todos os membros do conselho ressaltaram a importância de manter uma taxa de juros que estimule o crescimento, dado o arrefecimento da economia no primeiro trimestre deste ano. Pois bem, todos concordam que a taxa básica de juros tem que ser estimulativa, no entanto, nenhum deles votou a favor do corte da taxa básica.
Culpa da taxa estrutural! No entendimento dos membros do Copom, a taxa de juros no nível em que se encontra já será capaz de proporcionar estímulos à atividade econômica, no longo prazo.
Busca-se acalmar a opinião pública concedendo desconto muito menor que os aumentos recentes dos combustíveis.
No que diz respeito à política monetária, ficamos abraçados a uma taxa real de juro superior àquela quando a Selic estava em 14,25% ao ano, esperando produzir, via consumo, o ambiente propício de retomada.
As guinadas do governo são tão fortes ou tão sublimes que nos conduzem sempre aos mesmos caminhos. Um claro 360 graus.
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