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Ano novo, erros novos

Coluna do Galhardo

O ano de 2025 já começou, mas para estrear esse espaço onde trarei alguns comentários econômicos a partir do meu dia a dia como economista-chefe aqui na Análise Econômica, trago uma breve reflexão sobre as expectativas de mercado.

O grande problema macroeconômico de 2024, na minha humilde opinião, foi o erro brutal do mercado financeiro em relação ao nível de preços. No início de 2024, a maioria dos analistas falava em uma inflação baixíssima para 2024 e, pasmem, para 2025.

Diversos bancos e consultorias falavam que o IPCA atingiria 3% – o que, obviamente, acabou não se materializando. O índice registrou variação de 4,83% em 2024. 

Em defesa dos seus erros, o mercado financeiro pode dizer que, em janeiro do ano passado, não havia como saber sobre o desastre do Rio Grande do Sul.

Verdade. Não sabíamos. Ninguém sabia. 

O mercado pode dizer ainda que o impacto do El Nino sobre os preços foi bem pior do que havíamos projetado em 2023.

Mas, não. Isso não. A gente falou mais sobre o El Nino em 2023 do que o brasileiro falará sobre o Oscar  nos próximos dias.

Os analistas do mercado financeiro podem dizer ainda que eles não sabiam que a situação fiscal seria tão pior. Bem, isso também não é verdade.

O resultado primário de 2024 foi substancialmente menos deficitário do que os analistas haviam projetado no começo do ano.

O governo central cumpriu no ano passado a meta de resultado primário, registrando déficit de R$11 bilhões, o equivalente a 0,09% do Produto Interno Bruto (PIB). Somando as despesas excluídas do cômputo da meta fiscal, como os gastos com o RS, o déficit no ano foi de R$43 bilhões, equivalente a 0,36% do PIB.

Bem, então talvez tenha sido o resultado nominal, sob o qual parte da culpa pode ser creditada ao governo, mas também à meta de inflação em nível impraticável.

Embora o resultado nominal seja realmente assustador (R$998 bilhões, maior valor nominal da série histórica iniciada em 2002), não podemos creditar a ele o fato de a inflação ter ficado muito acima da mediana das projeções do mercado em 2024.

Foi o mercado de trabalho aquecido, o dólar nas alturas? Talvez. Mas também não existem elementos sólidos que mostram que a taxa de desemprego no menor nível da história tenha sido vetor de aumento de preços aos consumidores.

Há que se dizer ainda que, apesar da notável frustração das expectativas do mercado, a taxa de inflação de 2024 ficou bem abaixo da média anual histórica desde 1999.

O que temos para este ano? O crescimento do PIB.

Eu já vi diversos colegas dizendo que o ano de 2025 será marcado pela frustração das expectativas de crescimento da economia. Depois de anos com sucessivos erros de subestimação do PIB, este ano será marcado pela superestimação.

O argumento faz sentido uma vez que estamos projetando, na média, uma Selic em torno de 15% no meio deste ano.

Além disso, esperamos também pelo aumento das tensões políticas no decorrer do ano. A segunda metade de 2025 certamente será marcada pela “antecipação” das eleições de 2026, que, como podemos ver diante dos acidentes do Lula, já estava bem viva em 2024.

Complementarmente, o cenário externo não nos deixa com muita margem para sonhar. O aumento das tensões comerciais deve prejudicar o ritmo de crescimento da maioria das economias em desenvolvimento, como o Brasil.

Então, sim, a possibilidade de um crescimento econômico muito menor que o projetado é factível. Pelo menos não se assemelha à injustificável projeção de inflação do mercado no começo de 2024.

E é aqui, finalmente, onde eu queria chegar. Embora eu reconheça a possibilidade do país crescer muito menos em 2025 que em 2024, há que se considerar também o outro lado da balança.

O empresário brasileiro está diante da primeira grande oportunidade de ganhar dinheiro com investimento produtivo em cerca de 10 anos. Acredite se quiser: 10 anos! De 2015 em diante, o que se viu além da grave crise de 15-16, foi um crescimento medíocre às custas de impulsos meramente passageiros.

Desde 2021, o crescimento econômico criou um ambiente relativamente profícuo para os negócios, que culminou em uma taxa de desocupação de nível historicamente baixo e recorde na massa salarial, por exemplo.

Esse efeito multiplicador, para lembrar das políticas keynesianas, têm contribuído para um crescimento sustentado e espraiado da economia brasileira, a despeito de toda a volatilidade captada nos mercados de câmbio e de ações.

Embora seja necessário reconhecer o peso da política monetária contracionista sobre o nível de atividade econômica, é preciso entender que, pela primeira vez em muito tempo, os empresários não querem tirar o pé do acelerador. 

A ver.

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