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Precisamos falar de inflação, de novo.

coluna do galhardo: inflação

Os dados mais recentes de preços ao consumidor confirmam um quadro de inflação relativamente benigno no Brasil em 2025. A expectativa de mercado para o IPCA converge de forma acelerada para níveis muito próximos às nossas projeções internas. De acordo com o Relatório Focus, a mediana das estimativas aponta para variação de 4,85% no ano, enquanto nossa projeção, que começou em 4,85% em janeiro, foi revisada para 4,77% neste momento.

A diferença fundamental entre as nossas estimativas e as medianas de mercado reside no processo de ancoragem. Nossos números prospectivos oscilaram de forma estreita entre 4,85% e 4,99%, ao passo que as projeções do mercado chegaram a atingir 5,6% logo no segundo mês do ano, permanecendo elevadas por diversas semanas. Não por acaso, algumas instituições chegaram a estimar o IPCA em patamar superior a 7,1%, refletindo uma leitura exagerada dos riscos inflacionários no início do ano.

O equívoco do mercado não foi de forma alguma trivial. A justificativa predominante para projeções tão elevadas estava ancorada na hipótese de excesso de demanda, alimentado por descontrole fiscal. Embora a questão das contas públicas continue sendo central para a dinâmica de médio prazo, a realidade recente mostra que, mesmo sem melhora estrutural relevante no quadro fiscal em 2025, a inflação surpreendeu para baixo.

De fato, ainda que um IPCA de 4,8% ao final do ano seja tecnicamente superior ao teto da meta de 3% ± 1,5 p.p., o resultado representa um alívio expressivo em relação aos cenários mais adversos projetados anteriormente. O ambiente externo também contribuiu: a valorização do real, aliada à estabilidade dos preços do petróleo, abre espaço para ajustes adicionais na gasolina por parte da Petrobras, com impactos de baixa sobre o índice.

Adicionalmente, a combinação entre redução da taxa Selic e maior entrada de produtos importados, notadamente da China, contribui para suavizar pressões de preços, no longo e curto prazo, respectivamente. Esse conjunto de fatores torna plausível a hipótese de encerrarmos 2025 com o IPCA dentro do intervalo de tolerância, algo considerado improvável no início do ano, quando prevalecia um clima de forte incerteza.

Nesse contexto, o Comitê de Política Monetária terá espaço para avaliar a possibilidade de iniciar o ciclo de cortes de juros ainda este ano. Nossa leitura é que, se o cenário corrente se mantiver, o movimento poderia ser deflagrado já na reunião de dezembro.

Amém.

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