Os dados do balanço de pagamentos de julho trouxeram sinais relevantes para a economia brasileira, especialmente quanto ao descompasso entre o déficit em transações correntes e o ingresso de investimento produtivo.
Eu sei que o assunto é um pouco chato, então deixe-me ser mais didático aqui.
O balanço de pagamentos é o registro contábil de todas as transações realizadas entre residentes no país (pessoas e empresas) e o resto do mundo. Engloba desde exportações de commodities até operações financeiras, como a compra de criptoativos.
Dado o caráter diverso dessas transações, o balanço é dividido em contas específicas. Uma das principais é a de transações correntes, que abrange a balança comercial, a balança de serviços e os fluxos de renda primária (como lucros e juros).
Em países em desenvolvimento, essa conta costuma ser deficitária. Isso ocorre mesmo quando há superávit comercial, pois os pagamentos de rendas para o exterior — reflexo da presença de empresas estrangeiras e de juros elevados — superam as receitas. Além disso, déficits na conta de serviços tendem a agravar esse resultado.
O déficit em transações correntes costuma ser compensado pela entrada de investimentos produtivos, que trazem os dólares necessários para equilibrar as contas externas. No entanto, os dados mais recentes indicam que esse equilíbrio vem se deteriorando.
Apesar de o Brasil figurar entre os principais destinos de investimento estrangeiro nos últimos anos, o fluxo atual não tem sido suficiente para cobrir o déficit corrente. Segundo o Banco Central, no acumulado de 12 meses até julho, o déficit em transações correntes somou US$73,1 bilhões, enquanto o ingresso líquido de investimento direto foi de US$67 bilhões. A diferença entre os dois, que era de US$1 bilhão em maio, saltou para US$6,1 bilhões, o maior nível desde novembro de 2015.
Diferentemente de 2015, o descompasso atual não decorre da redução nos investimentos, mas sim do aumento do déficit externo. Entre os fatores estão a queda nos preços das commodities exportadas, o crescimento das importações em resposta à maior atividade econômica, a depreciação cambial na virada de 2024 para 2025 e o aumento da repatriação de lucros por empresas estrangeiras.
É importante destacar que esse descompasso entre transações correntes e investimento produtivo não está diretamente relacionado ao cenário fiscal ou a tensões políticas internas, como sugerem algumas interpretações. Embora esses fatores mereçam atenção, eles não explicam o movimento recente.
Por outro lado, o crescente e indesejável protagonismo do Brasil nas disputas comerciais internacionais, especialmente após as declarações de Donald Trump, impõe um novo vetor de incerteza. Esse reposicionamento geopolítico pode adicionar volatilidade ao fluxo de capitais e ampliar os riscos externos para a economia brasileira.
→ Saiba mais sobre a Ata do Copom, clique aqui.