De tempos em tempos, o xadrez geopolítico se move em função do mercado de combustíveis. Os choques do petróleo (1973 e 1979) foram evidências incontestes de poder dos Estados Unidos e dos países que pertencem à OPEP, uma vez que a manipulação da oferta do “ouro negro” reflete-se nos preços tanto do produto como na inflação global. Contemporaneamente, as questões climáticas e a busca por combustíveis renováveis provocam novas movimentações no tabuleiro e neste caso, o Brasil pode se inserir como um player importante, principalmente no mercado de etanol.
Para além das questões de transição energética, o etanol tem sido um ativo importante do ponto de vista estratégico dentro do tabuleiro global. O temor que alguns países têm de ficarem expostos com relação ao suprimento de combustíveis fósseis, como ocorreu durante a pandemia e à guerra da Ucrânia, fez com que países como Estados Unidos e Índia aumentassem a mistura de etanol na gasolina. Diante dessa movimentação e da capacidade de produção que o Brasil possui, é natural que o país tenha uma posição de destaque.
O Brasil atualmente possui capacidade de produzir aproximadamente 42 bilhões de litros de etanol por ano e produzir cerca de 37 bilhões; majoritariamente o biocombustível nacional é subproduto da produção de cana de açúcar embora a produção de etanol do milho esteja em franca expansão. No entanto, o país não detém a hegemonia na produção: os Estados Unidos produzem 58 bilhões de litros do biocombustível por ano.
Mesmo sendo o segundo maior produtor global, o Brasil encontra-se em uma encruzilhada diplomática. Desde a imposição das tarifas comerciais pelo presidente Donald Trump, o etanol foi colocado na mesa de negociação pelos Estados Unidos. O país anseia pela redução da tarifa de 18% imposta pelo Brasil como moeda de troca para a redução das tarifas sobre café e carne bovina brasileira.
Aceitar a demanda norte-americana condicionada à redução das tarifas sobre as exportações brasileiras agradaria o setor cafeicultor e de carne bovina; no entanto, causaria forte desagrado por parte do setor sucroenergético brasileiro e dos demais fornecedores de matéria-prima para a produção de etanol como milho e sorgo.
Diante da importância do tema, seja para a transição energética, seja pela questão estratégica, o governo brasileiro deve ser cuidadoso nos próximos passos pois, dentro do atual contexto, o fortalecimento da produção de etanol nacional pode reposicionar o Brasil dentro desse tabuleiro energético atual.



