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Do crescimento anabolizado ao risco de crise: o (possível) novo capítulo da economia dos EUA

coluna do galhardo

A confiança do consumidor norte-americano voltou a recuar em setembro, segundo o índice da Universidade de Michigan: de 55,9 pontos em agosto para 51,7. É verdade, o indicador não costuma ser o protagonista dos relatórios de mercado, mas pode funcionar como aquele detalhe que, no quebra-cabeça, pode mudar a imagem final. Neste caso, ajuda a compor um cenário em que a desaceleração da economia dos Estados Unidos vai deixando de ser apenas uma hipótese teórica e começa a ganhar corpo.

Convém lembrar que, em junho, o saldo de empregos foi negativo em 13 mil – o pior número desde o início de 2020. O episódio custou a Erika McEntarfer o cargo, após Donald Trump demonstrar sua insatisfação com estatísticas que, até então, ainda eram ligeiramente positivas. De lá para cá, julho e agosto confirmaram uma perda de fôlego em relação ao ritmo observado no primeiro quadrimestre. A isso se somam a produção industrial e o varejo, ambos enviando sinais de que, finalmente, a economia americana está, digamos, obedecendo às projeções de desaceleração feitas desde 2022.

Não se trata de anunciar uma crise iminente. Mas, à exceção do choque da pandemia, já são doze anos sem uma turbulência econômica ou financeira relevante. É possível que a Covid-19 tenha apenas adiado uma correção de rota, suavizada por (necessário) cheques de estímulo e políticas fiscais generosas. O que sabemos é que desde a crise da dívida europeia, em 2010-2012, o mundo não experimenta uma crise de proporções continentais – o que, para uma economia acostumada a solavancos periódicos, pode até parecer anormal.

Se o próximo choque está à porta, é difícil cravar. O que parece claro é que a combinação de um ciclo longo sem grandes crises e de um crescimento anabolizado por estímulos fiscais pode gerar agora uma desaceleração mais abrupta do que muitos gostariam. Caso os dados venham mais fracos do que o mercado espera, a correção pode ser severa: um inverno prolongado de investimento e consumo, com a China, talvez, se ajustando a um crescimento de 3% ao ano, a Europa presa em estagnação e os EUA enfrentando quedas consistentes na atividade.

Em outras palavras, nada de inédito no manual da macroeconomia: apenas o retorno de algo que já vimos muitas vezes, e que o mercado projeta há alguns anos – uma crise.

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