Por Weruska Goeking (de O Financista)
Um olhar mais atento aos indicadores econômicos dos Estados Unidos mostra que a crise global iniciada no mercado financeiro em 2008 ainda persiste e deve provocar novos desdobramentos na economia real, especialmente nos países desenvolvidos. A avaliação é da Análise Econômica Consultoria.
“A economia norte-americana está mais fragilizada do que comumente se diz”, afirma André Galhardo Fernandes, sócio e diretor de estudos econômicos do setor público da consultoria.
Fernandes parte da razão entre estoque e vendas do setor atacadista dos Estados Unidos, que está em 1,35, para explicar o porquê do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) visto em 2014 e 2015 não ser sustentável.
“Não parece muito, mas trata-se do maior valor desde o ano de 2009, quando os Estados Unidos passavam pela grave crise iniciada por conta do crédito subprime”, explica.
O maior nível de estoque do atacado ocorre com a diminuição dos preços dos insumos e matérias-primas, especialmente dos importados, que retroalimenta o baixo valor dos produtos no país.
Há elementos que indicam que esse círculo vicioso deve continuar. Fernandes diz que a desaceleração da economia chinesa e a desestabilização dos mercados financeiros tendem a impactar a taxa de câmbio mundial, tornando os produtos importados mais baratos para o norte-americano.
A indústria por lá vem sentindo o baque. A produção industrial dos Estados Unidos caiu 0,5% em fevereiro e a utilização da capacidade industrial ficou em 76,7%, abaixo dos 77,1% observados em janeiro.
Além disso, a formação bruta de capital fixo também mostra fragilidade. “Não há nenhum elemento nos Estados Unidos que aponte para a melhora desse indicador no médio e longo prazo”, avalia Fernandes.
Isso significa que os empresários não veem com bons olhos a economia norte-americana no médio e longo prazo e, por isso, uma nova rodada de aumento de juros não deve acontecer tão cedo.
“Os bancos centrais da zona do euro e do Japão estão com problemas mesmo com política expansionista e taxa nominal negativa”, observa Fernandes. “Aumentar os juros pode encarecer o dólar e diminuir ainda mais o preço de produtos importados”, acrescenta o economista tocando no ponto nevrálgico das decisões do Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano).
O índice de preços ao consumidor mostrou deflação de 0,2% em fevereiro e deve tornar o anunciado aumento gradual da taxa de juros dos Estados Unidos mais lento ainda diante da fraqueza da economia.
“Com a piora da perspectiva para o setor privado e a deterioração das contas públicas dos Estados Unidos, fica difícil encontrar elementos para dar sustentação para o crescimento.” O PIB norte-americano cresceu 2,4% no ano passado.
Uma nova rodada de estímulos por meio de investimentos públicos poderia ajudar a estimular o crescimento, mas parece “pouco provável”, segundo Fernandes, devido às fortes e imprevisíveis oscilações do mercado financeiro.
Assim, Fernandes avalia que a crise iniciada em 2008 atingiu de forma mais grave os países em desenvolvimento e agora deve mostrar seus efeitos negativos de forma mais evidente na economia real de países desenvolvidos.
“Acreditamos que o caminho ‘natural’ será uma crise de dimensões similares às de 2008, mas com impactos mais elevados sobre a economia real do que naquela ocasião”, interpreta.
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