Em nosso último editorial (leia aqui) falamos sobre prioridades.
Pensar em prioridades nos faz pensar no que está por trás das escolhas/definições dessas prioridades. A questão é que existem elementos, concretos ou abstratos, objetivos ou subjetivos, que condicionam essas escolhas.
Mas, antes de seguir, vamos fazer uma breve reflexão sobre o Estado.
Dentre as diversas interpretações sobre o Estado (que, inclusive, dividem fortemente opiniões, gerando calorosos debates), uma das mais significativas é a das frações de classes.
A ideia é que a sociedade é composta por diversas frações, cada qual com seus interesses. Cada grupo se organiza politicamente e os dirigentes dessas frações passam a compor o Estado.
Desse modo, há uma correlação de forças entre essas frações e o Estado segue a direção dos interesses dos grupos com maior presença, com maior articulação.
Um ponto que nos parece problemático é quando essa articulação, de algum modo, não representa os interesses dos grupos, mas dos “dirigentes”.
A questão central, portanto, são os interesses.
Os mesmos interesses que condicionam a determinação das prioridades que citamos no início. Os mesmos interesses que pautam as ações do Estado.
Preocupa-nos, nesse sentido, os julgamentos e interpretações que remetem a noção de “dois pesos, duas medidas”.
Até pouco mais de dois meses atrás, havia uma preocupação generalizada de que o problema central do governo eram os crescentes gastos. Somente “domando” os gastos do governo era possível colocar a economia em ordem.
Aí, com o álibi de que a gestão petista deixou uma “herança maldita”, assumimos que 2016 teria o maior déficit primário da história: R$ 170 bilhões.
Essa semana, contudo, o governo já cravou: não teremos déficit menos que R$ 100 bilhões em 2017. Quase não houve preocupações com esse anúncio, o que nos deixou com uma dúvida latente: em que momento nos tornamos lenientes com o “enorme” gasto público, já que outrora era a “raiz de todo mal”?
Esse é um exemplo de vários que se repete no que tange política monetária, política cambial, política industrial, política de inovação, política educacional, enfim, a lista é longa. Dois pesos, duas medidas.
E, infelizmente, essa leniência nos desvirtua dos problemas reais, dos problemas centrais.
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