Nesse editorial decidimos sair um pouco da temática da política discutida nos textos anteriores e falar mais objetivamente sobre questões econômicas. Dentre uma das questões econômicas de vulto no Brasil, chama atenção a evolução da indústria nacional.
Todo o complexo industrial brasileiro sofreu muito nos últimos anos, para se dizer o mínimo. Algumas interpretações sugerem que, pelo menos, desde 1985 a indústria brasileira, especialmente a indústria de transformação, tem reduzido sistematicamente sua participação na economia (mensurada pela participação da produção industrial na produção total).
Nós coadunamos com essa perspectiva que é denominada de desindustrialização. Em outras palavras, desindustrialização é a reversão do processo de industrialização, a redução do complexo industrial.
O que temos visto no Brasil, além de ser um processo considerado precoce, dado que o país não possui indicadores de uma nação desenvolvida, é um processo relativo. E a explicação é simples: ele é relativo, pois em números absolutos a indústria cresceu de maneira ininterrupta até 2014.
Contudo, esse crescimento se deu em um ritmo muito menor do que em comparação com outros setores da economia como, notadamente, o setor de serviços.
Esse movimento poderia ser bastante benéfico ao país se o setor de serviços fosse majoritariamente composto por serviços de alto “valor agregado” ou de “alta tecnologia”. Mas essa não é a realidade do setor de serviços brasileiro, que é composto majoritariamente por serviços de menor valor agregado.
Mas por que nos preocupa a retração da indústria?
Primeiro que na história econômica brasileira recente, despendemos muitos esforços e recursos para a construção do complexo industrial que temos.
Em segundo, a indústria é um setor dinâmico, pois estabelece diversas conexões com outros setores da economia.
Para produzir, a indústria precisa comprar matérias-primas e, para vender, precisa contratar empresas responsáveis pelo transporte e armazenamento para, por fim, colocar o produto à venda no comércio.
Em terceiro lugar, a indústria tem um papel importante na economia e, por conseguinte, no crescimento econômico.
É o setor com maior capacidade de gerar empregos, o que eleva a renda da população e maior capacidade de consumir produtos e serviços que contribuam para melhora da qualidade de vida de modo geral.
O impacto dessas mudanças é sentido diretamente na economia como um todo. A queda da indústria se reflete na queda da atividade econômica. Por conta do dinamismo da indústria e sua interdependência com outros setores, sua queda geralmente puxa a atividade econômica junto.
No entanto, o que vemos no Brasil é que com a diminuição da importância da indústria na produção nacional as crises internacionais têm maior influência na economia doméstica.
Se num momento de adversidade a indústria tem o poder de potencialização de uma crise econômica, por outro, está menos suscetível às volatilidades do mercado financeiro e às cotações dos preços das commodities. Tal como acontece com a indústria extrativa ou mesmo quando o país é excessivamente dependente do setor de serviços e agricultura.
Então, o Brasil está no meio do caminho.
Perdeu o poder do seu setor de serviços ao longo do tempo, tendo o substituído por indústrias extrativas, por exemplo.
É excessivamente dependente da produção e exploração de bens básicos ligados à agricultura e indústria extrativa. Tais setores estão sujeitos aos balanços do mercado e têm alto poder de contaminação da economia local quando são roçados por uma crise. Além disso, tem menor efeito multiplicador e, obviamente, é mentira que possui grande potencial de criação de emprego.
O Brasil precisa investir em pesquisa e desenvolvimento e em educação de qualidade para que a capacidade de criação do brasileiro seja posta em serviço da construção e desenvolvimento da economia nacional por meio da indústria de transformação e serviços que contenham maior valor agregado.
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