Falar em câmbio no Brasil se tornou tarefa cotidiana. Nos últimos anos, especialmente nos últimos meses, com o péssimo desempenho da economia brasileiras, os desafios do cenário externo e as incertezas políticas, o tema ficou ainda mais presente no dia-a-dia.
Todas essas variáveis geram simultaneamente um campo de forças que torna difícil a determinação do que é causa e do que é consequência. Ainda assim, olhando para esse tabuleiro global, conseguimos correlacionar alguns fatos com os movimentos do câmbio, a fim de identificar as pressões e as tendências.
É importante não perder de vista que ainda há uma pressão altista, de modo geral. Segundo o economista-chefe da Análise Econômica Consultoria, André Galhardo Fernandes, o dólar continua subindo, seguindo as projeções da consultoria.
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No primeiro semestre, a consultoria previa uma pressão significativa de desvalorização do real, especialmente por conta da perspectiva de alta dos juros nos Estados Unidos. Em suma, com mais dólares saindo do Brasil e indo para os EUA, as forças de oferta e demanda faziam seu jogo, tornando o dólar mais caro por aqui.
Em meio a esse contexto, a economia brasileira continuou entregando resultados pouco convincentes. O desemprego seguiu elevado, o déficit público persistente, o nível de ociosidade da capacidade instalada bastante alto. Em suma, sem perspectivas de mudanças significativas na trajetória da economia.
Com o início da corrida eleitoral, as perspectivas de quem conduziria o Brasil pelos próximos quatro anos começaram a ser precificadas. Gerou-se um consenso em torno do caminho necessário: reformas. Desse modo, quem estivesse alinhado com o discurso pró-reformas criava um ambiente de valorização do real. Quem divergisse, gerava o efeito contrário e o dólar ficava mais caro.
“A instabilidade política não cessou completamente com a vitória de Bolsonaro. Medidas divergentes daquelas prometidas em campanha ainda trazem movimentos especulativos”, afirma o economista.
Mesmo com a vitória de Jair Bolsonaro – especialmente, com a chancela de seu futuro ministro da economia, Paulo Guedes, conhecido pelo perfil liberal -, portanto, o dólar não cedeu completamente. E isso se dá pelo fato de não haver um caminho claro para a condução das reformas e os seus reais impactos – além das divergências entre o discurso de campanha e o que está sendo apresentado.
“Existe ainda um desgaste desnecessário com autoridades internacionais que podem prejudicar o cenário externo para o Brasil. Soma-se a tudo isso a questão da guerra comercial e a deterioração econômica de emergentes como a Argentina e temos a explicação para a desvalorização do real”, conclui Fernandes.
Desse modo, ainda que seja desafiador identificar as causações em meio a tantas correlações, o cenário está dado. As oscilações do câmbio evidenciam a euforia e a escolha dos investidores estrangeiros, alinhados com as escolhas pró-mercado.
Mas a combinação das variáveis externas, majoritariamente concentradas nos movimentos da Guerra Comercial, e das variáveis internas, como a dificuldade de retomada dos investimentos, apontam para uma tendência mais forte de câmbio desvalorizado no médio prazo.
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