O Banco Central do Brasil, sem querer surpreender ninguém (mas conseguindo mesmo assim), decidiu elevar a Selic em 0,25%, alcançando os 15% ao ano, o maior patamar nominal em 19 anos. É isso mesmo: seguimos com uma das maiores taxas reais de juros do planeta, perseguindo obstinadamente uma meta de inflação mais compatível com Frankfurt do que com Feira de Santana.
Eu sei, caro leitor, é preciso reconhecer que parte do movimento de aumento da taxa básica de juros deriva de questões ligadas às contas públicas. No entanto, o “descontrole” fiscal, propagado pelo mercado financeiro, não chega nem perto do quadro que tivemos, inclusive sob a vigência do célebre Teto de Gastos. A Emenda Constitucional nº 95 de 2016, que foi criada para conter a gastança mas terminou engessando o que não devia e fracassou no que prometeu: entregar superávits primários.
Aliás, o único superávit registrado desde então, em 2022, não veio do teto, mas da combinação explosiva de receitas extraordinárias com um ciclo eleitoral, digamos, generoso (que jogou para a posteridade gastos – quase – inadiáveis como os precatórios. O Teto, vale lembrar, passou o ano morrendo aos poucos, até ser sepultado discretamente no final do mandato. Foi tarde.
Hoje, com a âncora fiscal enfraquecida e os riscos de médio e longo prazo ainda no horizonte, o Banco Central parece dobrar a aposta em duas frentes: manter a da meta de inflação irrealista e sinalizar, com todas as luzes de neon possíveis, que Gabriel Galípolo é independente, sim senhor.
Enquanto isso, naturalizamos gastar algo como cerca de R$1 trilhão por ano com juros da dívida. Sim, você leu certo. R$1 trilhão. Tudo isso para quê? Para proteger a credibilidade fiscal? Para conter expectativas? Para demonstrar que o BC não dança conforme a música de Brasília?
Fica então a provocação: faz sentido cortar R$100 bilhões do orçamento — com todo o custo social e político que isso implica — enquanto seguimos tentando esvaziar um navio com um balde, ignorando o rombo nominal que continua aumentando a dívida pública, hoje em torno de 76% do PIB?
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