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O capital no século XXI

Hoje, dia 26/11, o professor Thomas Piketty esteve presente na USP para um debate com os economistas André Lara Rezende e Paulo Guedes mediado pela também economista e professora da FEA-USP, Fernanda Estevan, sobre o seu mais recente livro, lançado em português pela editora Intrínseca, O Capital no Século XXI. No momento em que escrevo esta pílula, o debate já se encerrou, mas é interessante compartilhar algumas observações que fiz ao escutá-lo. Primeiramente, estou no meio da leitura do livro e estou gostando bastante do que tenho lido. Piketty argumenta com clareza e elegância intelectual a evolução da desigualdade de renda ao longo da história.

O que mais me tem me impressionado ao longo da leitura são as referências que Piketty faz aos economistas clássicos, como Smith, Ricardo, Malthus e Marx e também a neoclássicos, como Kuznets. Piketty não escolhe um economista em detrimento de outros e defende a teoria em questão, muito pelo contrário. Sabendo que a teoria econômica é uma evolução história, ele faz uso da teoria neste sentido: como uma construção de homens e mulheres ao longo do tempo que se preocuparam com as questões da produção, distribuição e, neste caso, da desigualdade. No debate, Piketty apresentou algumas informações importantes sobre a sua análise, como definições adotadas em seu livro, as interpretações dos dados coletados (principalmente de países desenvolvidos como Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Japão, etc.) e fez algumas reflexões sobre os dados brasileiros.

Com relação aos dados, impressiona a quantidade: Piketty faz uso de séries históricas que chegam aos 300 anos. Com relação aos dados brasileiros, algumas coisas ficaram evidentes: 1) ainda temos muito que evoluir no que tange as informações sobre renda no Brasil. De acordo com Piketty, a nossa série de dados inicia em 1964 e vai até meados de 1980; recomeçam em 1997 e vem até hoje. 2) precisamos evoluir no quesito transparência. Este ponto está longe de ser um problema único e exclusivamente brasileiro, mas muito ainda precisa ser feito, inclusive no Brasil.

O argumento central do livro de Piketty é que a desigualdade está aumentando porque o rendimento sobre o capital (aluguéis, ações, aplicações, etc.) tem sido maior que o da renda obtida com o trabalho e superior à taxa média de crescimento da economia. Assim, quem tem dinheiro sobrando, ao investi-lo, vê o montante crescer mais que os que não têm, e isso desestabiliza a economia. O resultado deste fenômeno é uma concentração cada vez maior da renda. Para solucionar este problema, Piketty elenca algumas possibilidades, como a melhoria no sistema educacional, que reduz as desigualdades, por intermédio da melhor colocação das pessoas no mercado de trabalho. Entretanto, ao notar que a história da desigualdade é marcada muito mais por fenômenos políticos do que por fenômenos concorrenciais/meritocráticos, ele destaca a importância de políticas públicas que tenham o objetivo de controlar a expansão do rendimento sobre o capital.

Dentre essas políticas, destaca-se o imposto progressivo sobre a renda, principalmente sobre as grandes fortunas. Por esta conclusão, Piketty tem sido alvo de muitas críticas, principalmente de economistas com ênfase mais clássica/neoclássica.

De todo modo, o debate se mostrou extremamente construtivo. O livro, então, é uma verdadeira aula de história, política, sociologia e economia ao mesmo tempo. Recomendamos a leitura. E, se alguém se dispor a disponibilizar o vídeo do debate na internet, compartilhe conosco que compartilharemos aqui no blog.

Qualquer dúvida, crítica ou sugestão, mande um e-mail para gente em contato@analiseeconomica.com.br

Para saber mais:

http://intrinseca.com.br/ocapital/index.html

http://www.debateeae.fea.usp.br/

http://g1.globo.com/economia/noticia/2014/11/economista-piketty-tem-tarde-de-celebridade-na-usp.html

 

Créditos da imagem: http://jphadvisory.com/wp-content/uploads/2014/08/piketty-capital-21st-century.jpg

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