Esta semana, foi publicado na rede um manifesto assinado por 164 economistas brasileiros que atuam em universidades nacionais e internacionais. O objetivo do documento é rebater temas muito falados entre os candidatos, principalmente pela candidata do PT, Dilma Rousseff. Com suas palavras: “o nosso objetivo é desconstruir um dos inúmeros argumentos falaciosos ventilados na campanha eleitoral”.
Os documentos têm peso importante, pois os economistas que os assinaram são de centros ortodoxos e heterodoxos. Para os pouco familiarizados com os termos, grosso modo, os economistas ortodoxos foram os pioneiros, de escolas clássicas e neoclássicas, mas também podem ser entendidos como os mais voltados para as variáveis quantitativas (inflação, moeda, PIB, etc.) e defensores do livre mercado. Em contrapartida, os economistas heterodoxos são os que divergem da linha de pensamento ortodoxa, ou seja, buscam outras interpretações que são críticas às clássicas e neoclássicas. Geralmente são mais voltadas para políticas sociais, questões ligadas ao desenvolvimento, defendem a forte atuação do Estado na economia, etc.
Em contrapartida, há algumas semanas, também foi publicado outro manifesto assinado por dez economistas de universidade nacionais, com Maria da Conceição Tavares encabeçando o documento, no qual os economistas se posicionaram a favor da candidatura de Dilma.
Traçando um paralelo, há alguns meses, a Empiricus Research, uma empresa voltada a análise de investimentos, publicou um documento intitulado O fim do Brasil. Este documento apresenta uma crítica feroz sobre a política adotada pelo governo Dilma, no que se chamou de “nova matriz econômica”, ou seja, o foco no consumo, os gastos públicos e na cessão de crédito, diferentemente do tripé macroeconômico (superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante) mantido antes de seu governo. Além da Empiricus, Alexandre Schwartsman, ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central do Brasil entre 1999 e 2001 e colunista do jornal Folha de São Paulo, também fez críticas à atuação da instituição na condução da política monetária.
Sabe o que todos estes documentos têm em comum? Foram extremamente criticados por conta das opiniões emitidas. Na ocasião da crítica de Schwartsman, 40 economistas também se reunirão e fizeram um manifesto no qual desaprovavam a ameaça de processá-lo feita pelo BACEN.
Mas, vamos recorrer a um pouco de teoria para nos ajudar. A ciência econômica é uma ciência social aplicada e, por esta razão, não possui regras e leis fixas como nas ciências naturais ou exatas. Entretanto, a ciência econômica é composta por diversas correntes de pensamento ou “escolas de pensamento”.
Em linhas gerais, uma escola de pensamento é caracterizada pela união de diversos pensadores ao redor de uma ideia, por exemplo: os clássicos defendiam o equilíbrio geral da economia; os keynesianos defendiam a existência de desemprego involuntário; etc.
Mas existem métodos para que cada uma destas escolas de pensamento possa chegar as suas conclusões. Um desses métodos é a criação de modelos. Cada modelo econômico possui algumas premissas e, de forma muito simplista, está inserido num desses grandes grupos (ortodoxos ou heterodoxos).
A relevância de se destacar que existe um método é que, no âmbito científico, para que alguma afirmação seja questionada e sua ineficácia provada, ou seja, para provar que suas conclusões são erradas, é necessário provar que as premissas ou o próprio modelo em si está errado.
A divulgação destes manifestos por parte dos economistas tem mostrado que ainda há muito que se contribuir para a discussão e proliferação do conhecimento em economia. Mas por outro lado, principalmente no caso do manifesto assinado pelos 164 economistas, é evidente que existe um grande compromisso da parte destes profissionais com o desenvolvimento econômico do país, independente da escola de pensamento, seja ortodoxa ou heterodoxa. Mas também fica evidente algo como um paradoxo: todos concordam com o objetivo final, ou seja, o desenvolvimento do país, mas cada economista enxerga sob uma ótica diferente, por conta dos modelos com os quais interpretam o mundo. Esse paradoxo é benéfico para a discussão econômica e científica e contribui cada vez mais para a construção de um país melhor.
Para saber mais:
https://sites.google.com/site/manifestoeconomistas/
http://academiaeconomica.com/2008/04/ortodoxos-vs-hetrodoxos.html
http://veja.abril.com.br/blog/mercados/economia/164-economistas-nao-ha-crise-internacional/
http://www.empiricus.com.br/o-fim-do-brasil/
http://www.brasildefato.com.br/node/30139
http://brasildebate.com.br/economistas-com-dilma-o-brasil-nao-quer-voltar-atras/
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Créditos da imagem: http://bit.ly/11wJk8p